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Quantas imagens e palavras "consumimos" por segundo? Quantas imagens e palavras dissecamos sob o ponto de vista do (s) seu(s) significado(s)? Os media expelem velozmente a informação, transmitindo-nos fragmentos sucessivos de objectos construídos ou produzidos virtualmente. Absorvemos uma quantidade tal de informação, que frequentemente, acabamos por não conseguir reduzi-la de modo crítico ao essencial e a nossa base de dados projectual aumenta em quantidade mas desordenadamente, caoticamente. Desenvolvemos cada vez mais memórias curtas em detrimento das chamadas memórias definitivas. O processo de selecção e exclusão, essencial para a construção da nossa memória, fragiliza o nosso imaginário a ela associado. Perante a complexidade do tema, limito-me a um pequeno conjunto de reflexões sobre a importância do design, da arquitectura e do lugar na história da memória, sobre o papel do desenho como instrumento de difusão ou evocação e sobre as referências ou modelos que preenchem o nosso imaginário e que se difundem com intensidade, marcando a história do construído e do efémero. No fundo, este texto tem como objectivo fundamental desmantelar os mecanismos da criação, exploração e concepção, para compreender o processo de criação e, consequentemente, interpretar as obras que dele resultam.
Evolução da habitação colectiva no início do séc. XX: um olhar sobre o Prédio de rendimento de Mendonça & Costa, projectado por Ernesto Korrodi.
Ernesto Korrodi nasceu em Zurique, Suíça, em 30 de Janeiro de 1870. Estudou no Liceu Cantonal de Zurique e, aos quinze anos, ingressa na Escola de Arte Industrial onde desenvolveu os cursos de escultor-decorador e de professor de desenho durante nove semestres (1). Em 1889, no âmbito do programa de vinda de professores estrangeiros para Portugal, Korrodi seria colocado na Escola Industrial de Braga e mais tarde, em 1894, é colocado na Escola Domingos Sequeira, em Leiria, onde é professor da disciplina de Desenho Ornamental e Modelação, tendo leccionado também na secção da talha da Escola Domingos Sequeira. Em 1898, publica um primeiro estudo intitulado Estudos de reconstrucção sobre o Castello de Leiria: reconstituição graphica de um notável exemplo de construcção civil e militar portuguesa, publicado pelo Instituto Polygraphico de Zurique em 1898 (2), graças aos quais lhe seria atribuído, sob a proposta do Ministro e Secretário de Estado das Obras Públicas, Comércio e Indústria, o título de “Comendador da Real Ordem do Mérito civil”. Em 1905, Korrodi será nomeado diretor interino da Escola Domingos Sequeira e, em 1906, assume a direcção efetiva da escola, cargo que exercerá até 1917. No mesmo ano, monta uma oficina de cantaria junto à sua casa, Villa Hortênsia, que oferecia cantarias de calcário e lioz da região de Leiria. Duas obras da autoria de Korrodi receberiam o Prémio Valmor: a Casa do Dr. António Macieira (Avenida Fontes Pereira de Melo, Lisboa) em 1910 e o Prédio de Rendimento da viúva Estefânia Macieira (Rua Viriato, Lisboa) em 1917. Para além dos estudos de reconstrução que desenvolveu sobretudo aquando da sua vinda para Portugal, projetou obras para todo o país: Paços de Concelho, Sedes de Bancos, Garagens, Hotéis, Prédios de Rendimento e Habitações Unifamiliares. Em 1926, é-lhe atribuído o Diploma de Arquitecto pela Escola de Belas Artes de Lisboa.
No início do século XX, o design de interiores resultava do trabalho desenvolvido por arquitectos, decoradores, pintores ou entalhadores. Embora então integrado no universo das artes decorativas, acreditamos que já existia como prática profissional regulada por uma rede coerente de princípios de concepção e pelo entendimento do espaço interior como teia global de relações que se estabelece entre planos, ornamento, iluminação e mobiliário. No final do século anterior, perante a necessidade de proceder a uma reforma do ensino industrial, o governo português abrira um concurso para contratação de professores estrangeiros. Evidenciamos o papel de Ernesto Korrodi (1870-1944). As suas obras decorrem de uma atitude paradoxalmente ecléctica e moderna, apoiando-se por um lado, numa reinterpretação de soluções referenciadas no período medieval ou na Renascença; por outro, em fórmulas sediadas nos movimentos Arts and Crafts, Arte Nova (Art Nouveau) ou Secessão. Nos seus projectos persistem determinadas dependências e hierarquias, mas estas se cruzam com as necessidades despertadas pelas inovações técnicas, o que faz com que se preocupe também com a resposta à eclosão de novas funções e mobiliário na casa, a par das exigências higienistas do momento. O presente artigo consiste na análise da casa da família Bouhon, localizada na cidade da Covilhã, Portugal. Se a Arte Nova marca as suas fachadas, no interior deparamo-nos com espaços mais depurados, marcados por apontamentos decorativos, incorporados na azulejaria e nos tectos estucados ou em caixotões. O ornamento contribui, deste modo, para a dignificação dos planos das paredes, lambris e tectos, assumindo um papel fundamental na composição espacial.
No contexto oitocentista e início do século XX, marcado por projectos essencialmente eclécticos, os interiores domésticos e respectivo mobiliário resultavam do trabalho desenvolvido por arquitectos, decoradores, pintores ou entalhadores. Evidenciamos o papel de Ernesto Korrodi (1870-1944), professor contratado pelo governo português para leccionar no ensino industrial, que se evidenciaria pela sua metodologia projectual, particularmente sedimentada no desenho. Os seus projectos revelavam um elevado sentido de unidade e síntese, resultante do entendimento do espaço interior como um todo coerente que advém das relações que se estabelecem entre planos, ornamento, iluminação e mobiliário. Pretendemos, com o presente artigo, analisar registos gráficos produzidos pelo autor em causa, compreender a sua vocação como fonte de percepção da realidade envolvente e como via da exploração projectual ou de apresentação final.
Na Inglaterra, o chamado Estilo Vitoriano, correspondente à sucessão de várias correntes ou atitudes no âmbito projectual, duraria um longo período (1837-1901), que coincidiu com o processo da Revolução Industrial e a emergência de uma nova classe. Encontraremos, por um lado, projectos de interiores domésticos que evocam espacialidades de períodos anteriores, movidas por uma vontade de reconstituição; por outro lado, projectos cujo conceito resulta efectivamente de uma fusão de princípios provenientes de épocas passadas que conduzem a uma solução original. Há que evidenciar o papel do movimento Arts and Crafts que contribuirá igualmente para a formulação de princípios que estarão na génese da Arte Nova continental
O design de interiores domésticos em Portugal: (re)interpretar e (re)inventar face à condição da modernidade. O espaço quotidiano projectado como um todo.
No contexto português de início do séc. XX, a imprensa contribuiu para a difusão dos principais movimentos no âmbito da arquitectura e do design, ao mesmo tempo que dava a conhecer projectos representativos de uma procura de afirmação de identidade nacional. No caso da revista A Construcção moderna e as Artes do Metal, se as tipologias habitacionais, entre outras, são fruto da imaginação de arquitectos e decoradores predominantemente eclécticos, ao nível do mobiliário, assistimos à divulgação de novos conceitos patentes em trabalhos realizados em oficinas de marcenaria artística e especializadas na arte do entalhe. Esta publicação difundiria peças sediadas no Moderno Estylo, que se evidenciam pelos seus ornamentos fitomórficos e pela exploração de aspectos como a lógica modular, padronização de elementos decorativos, funcionalidade e integração de soluções industriais. Contribuía-se, deste modo, através de imagens e pequenos textos, para a mudança no gosto das classes menos informadas, afastadas da vida cosmopolita.
A análise dos múltiplos fascículos que integram a revista A Construção Moderna (1900-1919), que teria como directores técnicos o Engenheiro José Manuel Melo de Mattos (1856-1915) e o Arquitecto Rosendo Carvalheira (1864-1919), constituiu-se como alavanca para o entendimento daquilo que foram alguns interiores e peças de mobiliário, projectados em Portugal nas duas primeiras décadas do século XX. O acesso a todos os números em formato digital foi possível graças à integração da presente investigação no âmbito do projecto de investigação Arquitectura(s) de papel - Estudo sistemático de imagens e projectos de Arquitectura do início do século XX, através de A Construcção Moderna 1900-1919 [1], coordenado pela Prof.ª Marieta Dá Mesquita, que, partindo da construção de uma base de dados constituída pelos 542 fascículos digitalizados do periódico A Construcção Moderna, se centrou na análise dos seus artigos divulgadores de tipologias arquitectónicas, de interiores e peças de mobiliário, de regulamentos, de inovações técnicas no domínio da construção, de reflexões críticas em torno da produção nacional e internacional. A descoberta de textos e imagens publicados nesta publicação documenta uma passagem do Art Nouveau pelo nosso país que despertou particularmente o nosso interesse, na medida em que nos remetem não apenas para o estudo do projecto de arquitectura em si, mas para aquilo que foram intervenções ambiciosas no âmbito do design de interiores e equipamento e mesmo quando estas não superaram o suporte de papel, vingariam como veículos de comunicação de novos princípios, novas tecnologias, novos modos de pensar exteriores ao contexto português: “A Construcção Moderna – Revista Quinzenal Illustrada Sob a Direcção de um grupo de Constructores – Collaborada por Distinctos Technicos da Especialidade, criada em Fevereiro de 1900 e cuja duração se estende até 1919, constitui-se como a primeira publicação periódica portuguesa directamente vocacionada para as áreas da construção, visando preocupações de modernização técnica e procurando um público não necessariamente de especialistas, mas dirigido a um espectro social alargado em que pudessem ser confrontados percursos profissionais distintos, e onde o denominador comum se alicerçasse na reflexão doutrinária, operativa e científica” [2]. A informação e conhecimento despoletados por esta publicação conduziram posteriormente a um estudo mais abrangente que também englobaria interiores de obras arquitectónicas não divulgadas pela imprensa de especialidade, nomeadamente espaços comerciais que sobreviveram ao longo do tempo, universos espaciais de encenação mas também de funcionalidade e racionalização, que, à imagem de uma tradição bem portuguesa, nascem de um reinterpretação e reinvenção de estilos internacionais, neste caso específico, do Art Nouveau.